É ERRADO O CRISTÃO PARTICIPAR DAS MANIFESTAÇÕES NAS RUAS?


Foto Paulo Araújo / Agência O Dia
Nesta semana a imprensa não trata de outro assunto, senão os protestos que tomaram conta do país. Mesmo durante a Copa das Confederações, pois brasileiro adora futebol, o assunto 'esporte' tem ficado em segundo lugar na mídia. O que se vê nas capas de jornais e revistas, na internet, chamadas de telejornais, são as manifestações nas ruas do Brasil. A frase estampada em faixas e cartazes é: "O Gigante Acordou". O termo 'Gigante' é porque esta nação é muito grande, produz inúmeras riquezas, e o povo convive com uma enorme desigualdade social. Enquanto uns tem casas e apartamentos de luxo, carros importados, muitos outros não tem onde morar. Enquanto uns jogam comida fora, muitos outros não tem o que comer. 'Acordou', porque o povo brasileiro é conhecido pela passividade a todas as injustiças que sofre, na educação, saúde, transporte, moradia, segurança, ganhando um salário que não dá para muita coisa. E agora esta "paciência de Jó" parece ter chegado ao fim!

Mas e o que o cristão tem a ver com isso? Talvez alguns indaguem, embasados no pensamento cristão de que todos estes problemas são "espirituais". Não há dúvida que a maioria dos problemas que assolam uma pessoa pode ter mesmo uma raiz espiritual, quando absolutamente tudo na vida de uma pessoa parece dar errado. Todavia, nem sempre podemos atribuir detrminadas mazelas, como corrupção no país, impostos altos, preços subindo, desemprego, hospitais lotados, etc, a fatores espirituais. Aí já percebemos a ação do homem, assim como entendemos que o desequilíbrio ecológico existe em razão da destruição da natureza, como desmatamentos, poluições, e outros malefícios ao meio ambiente. Não atribuimos aos alagamentos, chuvas torrenciais, geleiras que se derretem, camada de ozônio sendo rompida, a motivos espirituais, porque já existe uma incessante campanha contra a destruição da natureza. Daí nosso entendimento nos faz diferenciar entre aquilo que é espiritual, e o que é humano. Porque se todos os erros fossem culpa do 'mundo espiritual' o homem não prestaria conta dos seus erros. Aqui no Brasil, a Floresta Amazônica, com 7% da superfície total do planeta, e abrigando cerca de 50% da biodiversidade mundial, é vista com certa preocupação por países de primeiro mundo, que tem apresentado projetos e se oferecido para proteger e cuidar em virtude dos desmatamentos que não são pequenos.

Será que diante das atitudes errôneas, que prejudicam a nação, seja na natureza ou na administração pública, o cristão deve cruzar os braços e "entregar nas mão de Deus", pois Ele "sabe de tudo"?! Devemos ficar passivos e assistir calmamente ao homem destruir árvores, verbas públicas, e ficarmos calados, omissos, diante de tamanhas injustiças com o nosso povo?! (Não estou me referindo a vandalismo e quebra-quebra, por favor. Me refiro as manifestações pacíficas, que a grande maioria tem feito. Aliás, não adianta nada lutar contra a injustiça cometendo atos injustos, destruindo patrimônios públicos, comércio, causando prejuízos a outros que estão trabalhando). Seria Jesus considerado então um "agitador", por expulsar os vendilhões do templo, de forma nada discreta? Jesus não estava irado, ou com ódio no coração, mas indignado, com uma situação errada. E indignação é um sentimento totalmente diferente de ódio, ira, ou falta de perdão. Você pode até perdoar, mas não deixará de sentir o natural sentimento de indignação diante daquilo que está errado! E somos convidados, pelo apóstolo Paulo, a sermos imitadores de Cristo. "Sede meus imitadores, como eu sou de Cristo". (1º Coríntios 11:1)

Diariamente enfrentamos os mais diversos problemas em nossa vida. Sejam familiares, no trabalho, com vizinho, no trânsito, etc. Nem sempre diante destes problemas ficamos apenas "entregando nas mãos do Senhor", mas agimos. Se o problema é com filhos, conversamos, advertimos, colocamos de castigo, e tentamos resolver, mesmo com muita oração. Se é com esposa(o), o diálogo é importante, o acordo, as economias do lar, etc. Enfim, os problemas até podem mesmo ter uma razão espiritual, mas isso não nos impede de agir, conversar, com equilíbrio e coerência, com oração, dentro do campo das nossas possibilidades. Sabemos que o Senhor Jesus cura, mas não deixamos de ir ao médico. Lucas, na bíblia, autor do evangelho que leva seu nome, era médico (Colossenses 4:14). Entendemos que, mesmo o Senhor nos guardando, nos livrando de todo mal, sendo a nossa proteção "sob o esconderijo do Altíssimo", como nos reforça o Salmo 91, não deixamos de trancar as portas de casa, ao sair, ou na hora de dormir. Nas casas de muitos de nossos irmãos vemos muros com cacos de vidros, portas bem trancadas, reforços nos portões com cadeados, cachorro no quintal. Ou seja, o fator "vigilância" humana, que entra em ação, ao invés de ficar apenas "repreendendo" na área espiritual.

Partindo deste princípio, de orar e também agir, é que as manifestações pacíficas, sem vandalismo, sem destruição do patrimônio público, é que são válidas, e mais: são a identidade do protestante, que se origina no termo protesto, contra o erro, a injustiça, a desigualdade. O grande movimento pelos direitos civis nos EUA, era liderado pelo pastor Martin Luther King Jr. A Reforma Protestante iniciou com Martinho Lutero, protestando contra a venda de indulgências e outros erros. Estes homens tornaram-se referências as reivindicações àquilo que é de direito, da voz calada da população, do sofrimento da nação com inúmeras injustiças na área social. Agora, o povo brasileiro começa a sair da caverna, a sair do Egito, e erguer a voz contra o pecado dos homens que nos representam, que nós os elegemos e os colocamos lá. O povo está cansado só de cobranças, cobranças e mais cobranças. Inúmeros impostos, bilhões arrecadados, e o povo sofrendo. Se você não pagar uma conta, você é cobrado. Agora chegou a vez de cobrar deles.

"A Reforma Protestante só foi vitoriosa porque houve discussões. Se fosse correta a opinião de certas pessoas que amam a paz acima de tudo, nunca teríamos tido a Reforma. Por amor à paz deveríamos adorar a virgem Maria e nos curvar diante de imagens e relíquias até o dia de hoje. O apóstolo Paulo foi a personalidade mais agitadora em todo o livro de Atos, e por isso foi espancado com varas, apedrejado e deixado como morto, acorrentado e lançado na prisão, arrastado diante das autoridades, e só por pouco escapou de uma tentativa de assassinato. Suas convicções eram tão decididas que os judeus incrédulos de Tessalônica se queixaram: "Estes que têm transtornado o mundo chegaram também aqui" (At 17.6). Deus tenha misericórdia dos pastores cujo alvo principal é o crescimento das suas organizações e a manutenção da paz e da harmonia. Eles até poderão fugir das polêmicas, mas não escaparão do tribunal de Cristo". John Charles Ryle

"Se a um irmão ou a uma irmã faltarem roupas e o alimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, mas não lhes der o necessário para o corpo, de que lhes aproveitará? Assim também a fé: se não tiver obras, é morta em si mesma". (Tiago 2:15-17)

Denis de Oliveira é pastor da Assembleia de Deus, Ministério Poder de Deus, RJ.

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